segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O OLHAR DA TERAPIA OCUPACIONAL PARA GESTANTES E MÃES/ PUÉRPERAS: PRÁTICA EM CONTEXTO HOSPITALAR

É com muito orgulho que publico este artigo escrito pela Terapeuta Ocupacional Laís Abdala Martins que tenho o prazer de te-la como amiga.

Laís Abdala Martins - Terapeuta ocupacional, residente do Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Atenção Hospitalar do
Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná UFPR, Programa Saúde da Mulher.



O OLHAR DA TERAPIA OCUPACIONAL PARA GESTANTES E MÃES/ PUÉRPERAS: PRÁTICA
EM CONTEXTO HOSPITALAR


O Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Atenção Hospitalar implantado
no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR) iniciou-se no mês de
fevereiro do ano de 2010, onde as áreas de concentração existentes são compostas por diversos
profissionais, que focalizam suas ações na atenção em saúde dentro do contexto hospitalar e no
trabalho para a conquista do fortalecimento da rede de atendimento aos pacientes.
O Hospital de Clínicas está vinculado à Universidade Federal do Paraná para fins de
pesquisa e prestação de serviços de saúde destinados a comunidade. O HC é centro de
referência no campo de ensino e assistência às demandas de alta complexidade.
Atualmente, a Residência conta com oito terapeutas ocupacionais, distribuídos nas suas
respectivas áreas de concentração: Oncologia e Hematologia; Saúde do Adulto e Idoso; Saúde da
Mulher.
As atividades dos residentes são divididas entre prática profissional supervisionada -
treinamento em serviço - aulas teóricas, orientações de projetos e atividades específicas. Os
residentes realizam atividades em conjunto e isoladamente, nas respectivas unidades de
internação que estão previstas por cada especialidade.
Como preconiza a própria estratégia do atendimento multiprofissional em saúde, a
integração com outras categorias profissionais favorece o desenvolvimento de um olhar holístico
do sujeito que se encontra sob assistência. Esta experiência de compartilhamentos e trocas
possibilita a aquisição de novos conhecimentos e a construção de processos para intervir neste
contexto.
Para a Terapia Ocupacional eis uma grande oportunidade para a inserção em novos
campos, qualificação profissional e reconhecimento da atuação pela equipe de saúde e
população.
Dentre as vivências profissionais previstas para a especialidade em Saúde da Mulher, está
a atuação no Serviço de Alojamento Conjunto, locado na Unidade da Mulher e do Recém-Nascido.
Por definição do Ministério da Saúde (1993), o Alojamento Conjunto (AC), é um serviço
hospitalar onde o recém-nascido sadio permanece junto a sua mãe (puérpera) durante as 24
horas do dia até ao momento da alta. Deste modo, o binômio mãe-bebê tem a oportunidade de
vivenciar os primeiros contatos e experiências.
Sendo um hospital de atendimento a alta complexidade, o HC tem no AC uma enfermaria
que acolhe as gestantes de alto risco para tratamento. As gestantes caracterizadas como de "alto
risco" são aquelas que aprese
ntam manifestações patológicas que demandam maior atenção e
cuidados específicos da equipe de saúde. KNUPPEL (1996) define a gravidez de alto risco como
qualquer gravidez na qual exista um fator - materno ou fetal - que afetará adversamente o
resultado da gravidez [...] é aquela na qual a mãe ou o feto apresenta probabilidade maior de
morte ou incapacitação.
Diante de alguma condição desfavorável, que pode comprometer a evolução da gravidez,
algumas destas gestantes passam pelo internamento, que pode ser mantido por dias ou meses.
Neste momento, as mulheres sofrem a perda momentânea dos papéis ocupacionais exercidos por
elas. O afastamento da casa, dos filhos, do companheiro, da família, do trabalho, tendem a
manifestar sentimentos negativos como ansiedade, medo, inquietação, insegurança, nervosismo,
que podem interferir no processo de tratamento e controle da doença. Neste momento, as
gestantes se encontram diante da necessidade do recrutamento de estratégias internas para o
enfrentamento desta realidade e adaptação a este novo contexto.
Neste sentido e diante deste cenário o terapeuta ocupacional intervém para promover
assistência humanizada a estas mulheres, aliviando a sensação de ruptura familiar, minimizando
os danos decorrentes da hospitalização e estimulando a participação ativa no processo de
preparação para o desempenho da maternidade já que, agora, o foco pode estar somente voltado
para a doença.
Deste modo as atividades são importantes para promover o distanciamento desta realidade
atual e difícil de ser vivenciada, para estimular o vínculo do binômio mãe-bebê, incentivar a
continuação do exercício de papéis interrompidos, promover autonomia e resgate da auto-estima.
Segundo Nalasco (2006) os recursos utilizados para estimular o fazer, proporcionam para
as pacientes experiências que fogem do foco da doença e da sua sintomatologia. Durante o
processo do fazer, da construção e realização das atividades, as vivências são ampliadas por
experiências positivas dentro deste contexto desfavorável à integridade do bem-estar.
No espaço propriamente dito do AC, onde as mães já estão com seus bebês recém-natos
e vivenciando as primeiras sensações e cuidados, os atendimentos envolvem atividades
desenvolvidas para promover a ambientalização das enfermarias voltada para o bebê, orientações
voltadas para as atividades de autocuidado, educação sobre o significado e prática do holding,
orientação referente a adaptações que podem ser feitas no ambiente para melhor conforto da mãe
e bebê, estimulação do contato corporal do binômio, sensibilização da mãe para observação e
compreensão das necessidades e dos comportamentos do bebê, conscientização da importância
do brincar no desenvolvimento saudável da criança, entre outras.
Alguns projetos também foram desenvolvidos e são no AC: Chá de bebê para gestantes,
Rotina de Lazer, Dia da beleza, Roda de Conversa. Estes projetos foram construídos visando
proporcionar uma relação de convívio, assim como um momento de vida social entre as
gestantes/mães do alojamento, promovendo o compartilhamento de experiências, a aquisição de
comportamento de ajuda mútua, resgate da auto-estima e minimização do impacto da
hospitalização.

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